12 de set. de 2009

Me explica?

Ok,pra falar a verdade quando eu cheguei lá a primeira coisa que pensei foi: "que porra eu tô fazendo aqui?" Vamos combinar,eu sair pra beber,assim? Sem motivo nenhum? Exclusivamente para beber? Para,né?
Mas tudo bem,eu já tava lá,não iria ficar com cara de cu nem ia dar uma de "não,obrigada,não bebo". Se fosse pra ser assim,teria ficado em casa.
O pessoal era gente boa,todo mundo já tava um pouco alterado e eu já tava perdendo o equilíbrio. Me encostei na parede mais próxima e fiquei divagando sobre o rumo que a minha vida tava levando. Pensei na confusão que se encontrava meu coração e a falta de soluções que me incomodava tanto. Me desliguei do resto e fiquei só ali,quieta no meu mundo disléxico. Fiquei tanto tempo na mesma posição que minhas pernas começaram a ficar dormentes. Foi nesse momento que ele chegou e encostou na parede,ao meu lado.
Começamos a conversar e o assunto fluia naturalmente,sem silêncios constragedores ou coisa do tipo. Ele era bonitinho e se vestia bem,gostava de música e livros. Ok,o cara era gay? Não,era hetero. Fiquei um pouco em choque com essa raridade que estava ao meu lado mas relevei,ele não iria chegar em mim,definitivamente.
O tempo passou e as pessoas ao meu redor foram perdendo o contorno,o álcool estava,enfim,fazendo efeito e eu estava tendo meu primeiro porre. De repente percebi o que eu estava fazendo e joguei a garrafa de vodka para longe. Eu não seria uma dessas adolescentes que saíam virgens de casa e voltavam grávidas,com dez mil tatuagens e um olho roxo. Peguei no braço do tal menino e fui com ele até a padaria. Compramos uma coca (dizem que cafeína corta o efeito do álcool) e um drops de uma bala de hortelã qualquer.
Voltamos para a rua sem saída e eu me sentei no meio fio. Depois de meia hora eu já me sentia bem melhor e vi que excetuando Peter,eu era a única sã do grupo. Observei interessada meu companheiro de sanidade. Ele me olhava com igual interesse e quando nossos olhares se encontraram,deu alguns passos na minha direção. Estendeu a mão esquerda para mim.Não pensei em nada,só aceitei a oferta. Ele me puxou e envolveu minha cintura com seus braços magrelos. Deu uma risadinha como se soubesse o estado caótico do meu cérebro e colou nossas bocas de forma vagarosa.
Confesso que levei alguns minutos para realizar o que estava acontecendo comigo. Eu estava entorpecida e não era por causa do álcool ingerido anteriormente. Peter beijava de uma maneira tão suave que eu me vi surpresa com tanta delicadeza presente em um garoto de aparência rude.
Parei de pensar e me deixei levar pelo tato,pela emoção. Era inacreditável mas já que estava acontecendo,não iria deixar escapar,certo?
Quando o ar já era escasso em nossa "bolha particular" nos separamos e eu me deparei com o sorriso mais fofo do dia. Peter olhava pra mim como se o dia tivesse,enfim,ganho cor. Seus olhos brilhavam e refletiam a mesma felicidade que eu sentia. Ele me abraçou mais uma vez,me deu um delicado beijo no rosto e entrelaçou nossas mãos. Fomos andando juntos,sem rumo,envoltos em nossa bolha particular.

1 de set. de 2009

Futuro

Ouviu o barulho da porta fechando atrás de si e soltou um suspiro de alívio ao sentir a música tocando suavemente em seus ouvidos. A semana tinha sido tão cansativa,tão intensa que à fez desejar o final desta quase tão loucamente quanto uma adolescente em meio às provas da escola.
O que a cansava não era a correria do trabalho ou a cobrança de seus chefes;estava cansada emocionalmente. Sentia um aperto no coração intermitente e chorava com frequência sem motivo algum,aparentemente. Quando parava para pensar na causa de tais " reações" -por assim dizer- sentia-se impelida a pensar no passado. Aquele passado que tentava com todas suas forças deixar em uma gaveta bem escondida no seu "guarda-roupa" de memórias.
Sabia que não tinha como esconder mais,sentia falta da amiga de escola que sumira sem deixar vestígios. Sentia falta das conversas em lugares improváveis e das risadas que surgiam a todo tempo,mesmo quando estavam a ponto de sucumbirem às lágrimas. Sabia que provavelmente ela estava por ai,cuidando de alguma criança abandonada ou criando histórias que poderiam ser confundidas com trechos de um diário.
Ainda não entendia como uma pessoa tão inteligente e cheia de talentos tinha desistido de tudo para "ver o mundo de outro modo". Ora,quer ver o mundo de um jeito que não seja esse capitalista? Vá para a favela mais próxima,você nem precisa sair da cidade! Mas não,ela insistia em fazer tudo com afinco,sempre foi assim,desde nova. E por isso, juntou suas coisas e sumiu no mundo deixando apenas uma carta dizendo "desculpa pela falta de educação,sei que você tá morrendo de curiosidade pra saber onde eu estou". Como ela conseguia fazer piada com uma situação dessas?
Ela estava sim,morrendo. Mas antes fosse de curiosidade. Morria de saudades da amiga todos os dias. Fizeram tantos planos juntas na adolescência,sofreram tantas desilusões,conquistaram tantas coisas e agora ela sumia? Assim? Até um namorado havia arranjado!
Tirou a bolsa que pendia precariamente em seu ombro e jogou-a em direção ao sofá. Sentou-se no chão,tinha a impressão de que o ar ali em baixo era mais puro,vai entender. Elevou os olhos e permitiu-se,enfim,enxergar o que tentava não ver a semana toda. Era dia quatro de Fevereiro. Fazia dez anos que tinham se conhecido. Enxugou uma lágrima que temia em cair. Era difícil conviver com a ausência de sua "irmã gêmea emprestada" mas todos tinham que prosseguir,não?
Levantou-se,procurou no aparelho portátil de música a pasta de nome "sonhos". Tinham feito,há alguns anos ,uma coletânea de músicas que gostariam de assistir ao vivo interpretadas por seus compositores originais. Ligou o computador e ,em um ato de masoquismo, decidiu ver as fotos que tiravam quando estavam empolgadas na nova arte de fotografar. Pelo menos assim,pensou,tinha sua irmã mais nova ao seu lado.