A internet estava fora do ar há dias. Assim como a vida dela
estava há meses. Sabe-se lá o porquê. Parecia que ela tinha entrado em um ciclo
de má sorte sem fim que consumia todas as energias dela. Aos poucos. Dia-a-dia.
Lentamente. E agora mais essa.
Bateu as cinzas do cigarro no pires da xícara de café
esquecida na sala. A visita da mãe ao novo cubículo no dia anterior havia-a
forçado a usar aquele conjunto de louças que só acumulava poeira no armário. Porque
ela tinha comprado aquilo mesmo?
Apurou os ouvidos ao escutar um barulho agudo de campainha mas o vizinho atendeu. Mudou-se para um daqueles quarto-sala “modernos”
que tem paredes feitas de papel e tamanhos proporcionais aos chips dos
celulares da moda. Tudo é a nano hoje em dia. Principalmente o cérebro das
pessoas.
Mas tudo bem, o apartamento tinha uma luz amarela no fim da
tarde e não ficava muito longe do metrô. Sem esquecer também do playground e da
piscina que lhe custavam uma fortuna de condomínio. Sua mãe, é claro, não perdeu
a oportunidade de fazer o comentário dos netos que estavam demorando pra chegar
e poderem aproveitar as “belezas do novo apartamento”.
Quem tava demorando pra chegar era o técnico da internet. O texto
era pra ter sido entregue às 15h e a reunião online era às 16h, mas a luz
amarela já tava chegando no tapete antigo e o tal nem tinha avisado que iria
atrasar. O jeito era esperar.
Recostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos. Ouvia
de longe a gritaria das crianças do prédio brincando no playground e o vizinho
que agora escutava uma música qualquer dos anos sessenta. O sol se punha na sala.
É, até que a vida não era tão ruim assim.