14 de mar. de 2014

A internet estava fora do ar há dias. Assim como a vida dela estava há meses. Sabe-se lá o porquê. Parecia que ela tinha entrado em um ciclo de má sorte sem fim que consumia todas as energias dela. Aos poucos. Dia-a-dia. Lentamente. E agora mais essa.
Bateu as cinzas do cigarro no pires da xícara de café esquecida na sala. A visita da mãe ao novo cubículo no dia anterior havia-a forçado a usar aquele conjunto de louças que só acumulava poeira no armário. Porque ela tinha comprado aquilo mesmo?
Apurou os ouvidos ao escutar um barulho agudo de campainha mas  o vizinho atendeu.  Mudou-se para um daqueles quarto-sala “modernos” que tem paredes feitas de papel e tamanhos proporcionais aos chips dos celulares da moda. Tudo é a nano hoje em dia. Principalmente o cérebro das pessoas.
Mas tudo bem, o apartamento tinha uma luz amarela no fim da tarde e não ficava muito longe do metrô. Sem esquecer também do playground e da piscina que lhe custavam uma fortuna de condomínio. Sua mãe, é claro, não perdeu a oportunidade de fazer o comentário dos netos que estavam demorando pra chegar e poderem aproveitar as “belezas do novo apartamento”.
Quem tava demorando pra chegar era o técnico da internet. O texto era pra ter sido entregue às 15h e a reunião online era às 16h, mas a luz amarela já tava chegando no tapete antigo e o tal nem tinha avisado que iria atrasar. O jeito era esperar.
Recostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos. Ouvia de longe a gritaria das crianças do prédio brincando no playground e o vizinho que agora escutava uma música qualquer dos anos sessenta. O sol se punha na sala.

É, até que a vida não era tão ruim assim.