6 de out. de 2009

Conto de Verão

A lua refletia no rio que fluía calmamente em direção ao mar. Só se ouvia o barulho de leves passos que faziam uma pequena pressão sobre a terra úmida. Era Dezembro,a noite estava quente e propícia para um passeio.
Ela se sentou em um tronco apoiando o queixo nos joelhos,como se tentasse se proteger de alguma coisa. Esperou durante quinze minutos até escutar o barulho de um carro estacionando em uma das vagas ao redor da "Área de Lazer do Rio Flinch".
Se levantou,achava melhor esperar seu agressor em uma posição mais "digna". Observou o homem andar calmamente em sua direção.
Era certo que aquele encontro estava rompendo todas as tradições milenares . Nunca,em toda a história de guerra entre os dois clãs havia tido uma situação similar àquela que passava agora. O arranjo fora simples,ele a contatou pelo celular e disse que gostaria de resolver aquilo de uma forma diferente da que havia sido imposta pelos pais. Estavam em mundo moderno,porque não uma conversa? Ela concordou,só a ideia de ter que enfrentar aquela maldição familiar algum dia,lhe dava náuseas. Marcaram de se encontrar no prazo de duas semanas a partir do primeiro telefonema em uma região "Suíça" da cidade; não pertencia nem ao Clã de Emy (Gray), nem ao clã de James (Hughes).
James parou cerca de cinco passos distante de Emy, ela observou que àquela distância sua mente já começava a "perder o foco". Ela deu alguns passos para trás e sentiu uma nuvem cinza se distanciando de seu corpo.
- Olá,Hughes. Espero que você tenha feito como o combinado;seus capangas mereciam uma folga no sábado mais quente da estação,não acha?
-Claro,Senhorita,fiz como o mandado.
James retirou o chapéu em sinal de cortesia e ficou um momento em silêncio encarando sua "oponente". Emy percebeu que seus olhos passavam por uma mudança de cor intensa e ela sabia que isso só acontecia quando ele passava por fortes emoções. Fortes emoções? Se ele estivesse mentindo ela saberia em um segundo,ela era feita para isso,descobrir as mentiras dos integrantes do Clã Hughes.
Não se sabia ao certo em que ponto os Hughes e os Gray se diferenciavam do resto da raça humana;aparentemente eram idênticos. Tinham os mesmos hábitos alimentares e sociais. Depois de estudos concluiu-se que os "poderes" só apareciam quando integrantes das duas famílias estavam juntos. Eles tinham capacidades neurológicas desconhecidas de reconhecimento e agiam por instinto. Com o passar dos anos esse instinto foi dominado e hoje Emy e James podiam conversar tranquilamente sem se atacarem.
A dúvida permanecia com Emy,por qual emoção forte James passava nessa noite quente ?

3 de out. de 2009

Almost

Ela odiava isso, toda essa entrega que acontecia com um só toque dele. Como esse menino era capaz de fazer isso com ela? Ele tinha cara de criança, atitudes de criança, mas quando estavam só os dois, ali, sozinhos, ele se transformava. Virava um homem com vasta experiência no assunto, que sabia o que fazer, na hora e lugares certos.

Sentiu a mão dele deslizar com “precisão” por suas costas. Não era possível que ele estava “jogando” daquela forma com ela! Estavam na casa dos avós dela, diante de toda a família e a última coisa que ela queria era estar ali. Se não fosse o compromisso com os familiares ela já teria levado ele para qualquer canto escuro e bem escondido para que ela pudesse “dar o troco” nele da mesma forma que ele fazia com ela agora.

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De verdade, eu estava impressionado com o auto controle dela. Se ela estivesse fazendo isso comigo definitivamente eu não conseguiria discutir sobre a imigração européia no séc. XIX com duas primas nerds. Eu já estou me animando aqui e não é a minha nuca que está sendo beijada nem as minhas costas que estão sendo arranhadas. Modéstia à parte eu definitivamente sei como fazer tudo isso sem que ninguém perceba. Ainda bem, aliás, porque a gente ta no meio de uma reunião da família dela (lê-se muitos primos e tios superprotetores) e eu dou valor à minha vida.

Graças a Deus! As primas foram embora e agora só restou nós dois na mesa. Eu já posso sentir as engrenagens do cérebro dela trabalhando em um plano ardiloso para me dar o troco.

Ah, não. O que essa mão ta fazendo aqui na minha coxa? Não, não, não. Tô ferrado, o jogo começou. E a pior constatação? Ela é melhor jogadora que eu.