2 de set. de 2010

Branco

E então, talvez um pouco tarde, ela pôde perceber que as cores que tinham colorido a vida dela até ali vinham dele. Aqueles pontinhos verdes, vários verdes, em um mar castanho que a hipnotizava sem esforço algum. Aquele amarelo clarinho que ao sol ofuscava seus olhos e aquecia seu coração. Um vermelho que lhe aquecia como nenhum cobertor poderia fazê-lo.

Todas aquelas cores, aquelas formas, eram parte da sua vida e ela ainda não havia se dado conta disso. Perceber que agora fazia parte de um triste clichê não a fez mais feliz do que antes. Chegou até a pensar que a sina do ser humano era ser um clichê. Alimentar aquele vício frenético de que as coisas que se repetem, que são comuns, são ruins.

Ela não queria esse tipo de vício. Ela já tinha um, bem mais prazeroso, aliás. Nada mais a alegrava do que ouvi-lo gargalhar. Aquela gargalhada sem fim, que trazia uma imensidão de cores para o ar que a rodeava, o ar que ele também respirava. Quando ria, ele era branco. Sabe, a cor que não é que cor e que ao final reflete todas as outras?

E os vícios não paravam por ali. Ela gostava de ouvi-lo falar sobre eles, sobre o nós que os envolvia e que a deixava fascinada. Ela gostava do vermelho mais que nunca. E pensando nisso, ela concluiu que talvez tivesse perdido a oportunidade de pergunta-lhe o porquê dele ficar tão vermelho quando dizia que a amava.

E você pode pensar depois de tudo isso que, quando ele foi embora, o mundo dela ficou cinza, negro, escuro. Não. Não foi isso que aconteceu. Quando ela enfim percebeu que parte de si havia ido embora, o mundo ganhou outra cor. Uma cor que até ali, pra ela, só tinha feito parte de pesadelos ruins e filmes de drama barato. E por mais que falar isso soasse clichê, a cor tristeza era bem mais feia vista de perto.