9 de jan. de 2010

Socialismo Libertário

Andávamos juntas, conversando sobre um assunto qualquer que se tornou instantaneamente desinteressante ao vê-lo. Minha amiga não reparou a presença dele da mesma forma que eu. Mesmo uns dez metros distantes, eu concentrei meus olhos míopes nele. A princípio não o reconheci; olhava porque ele havia despertado certo interesse em mim. Blusa branca com estampa vermelha revolucionária; calças jeans apertadas e tênis iguais aos meus. O cabelo maior do que o de costume, os olhos brilhantes...

De repente estávamos perto um do outro. Dois metros de distância; um talvez? Meu coração não ajudava na hora de fazer as contas; saltitava sem controle.

Então, me esqueci do resto, das coisas que aconteciam ao meu redor. Alguém falava comigo? Eu só conseguia enxergá-lo. Há quanto tempo não nos víamos; três meses, quatro? Ele havia crescido, não era possível. Ah os olhos, olhos tão brilhantes e tão marcantes que mesmo distante eu havia reparado.

Claro, não posso me esquecer do abraço. Braços quentes ao meu redor. Onde estava o perfume que me embriagava? Não pude senti-lo. Porque os braços já me largaram? Não, voltem aqui!

“Tchau, Anarquista”. Eu disse realmente isso? Como eu sou burra... Queria ter tido mais tempo. Mais um abraço talvez? Passar minhas mãos entre seus cabelos rebeldes, inebriar-me em seu cheiro, sentir seus lábios em minhas bochechas. Ou então, quem sabe só observar seus olhos mais uma vez.

5 de jan. de 2010

2020

Eu jamais havia sentido nada algo igual aquilo. Era tanto poder sobre mim contido em apenas um só toque, uma só palavra que me assustava. Ao sair de casa naquele dia chuvoso de setembro não sabia que as coisas acabariam dessa forma. Eu o amo o tempo todo, de corpo inteiro; sem meias palavras ou dúvidas. Tudo nele é importante para mim. Todas as manias, as convicções e os sonhos.

Adoro chegar em casa e vê-lo cochilando no sofá em frente à varanda. Os braços caídos, a boca meio aberta. Adoro poder sentir sua mão na minha ao sairmos para passear. Gosto quando ele me faz uma surpresa e chega do trabalho com um livro que nos lembra a adolescência.

Ao sentir seu cheiro –uma mistura de colônia e odor totalmente masculino- pelo corredor, quando ele sai correndo atrasado para alguma reunião, me lembro da época que namorávamos e eu odiava seu perfume. Gosto de ouvir seus elogios ao ler meus textos. Gosto de ouvi-lo recitar os prós e contras em se ter um cabelo longo na idade dele.

Gosto de brigar com ele e depois me deparar com um “Sorry” pregado na porta da geladeira. Gosto de reclamar dos pés em cima do sofá e do som alto e chato no carro.

Ao pegarmos o avião de volta pra casa, sinto um extremo orgulho de pensar que depois de tudo, depois de todas as confusões e mal ditos nós conseguimos ficar juntos.

Dou gargalhadas ao lembrar que agora, mais do que nunca nós estaremos ligados. As possibilidades de um bebê ruivo como o dos nossos sonhos adolescentes são nulas; mas um bebê amado e vindo do amor, isso é certeza.

Nunca encontrarei formas para agradecê-lo toda a felicidade que sinto. Viver com ele hoje e esperar um filho dele, são para mim, as coisas mais importantes. Não há nada que se compare à sensação de ser amada por quem você ama. Não há dinheiro que pague um sorriso dado ao amanhecer ou uma lágrima em seu ombro. Tê-lo ao meu lado me apoiando, me inspirando e me alegrando é surreal. Dizer que eu não sonhava com isso desde os quinze anos seria mentira. Sonhei, sonhei e sonhei. Inúmeras vezes, incontáveis formas. Mas nenhuma delas pôde chegar perto da felicidade que é tê-lo na realidade da minha vida e vê-la sendo transformada por nós dois, em magia.