23 de dez. de 2012

Sessenta e um segundos ( Imergir )


  São quatro e quarenta da manhã. Gosto de escrever horas por extenso na tentativa de fazer o momento que elas representam durar um pouco mais do que sessenta segundos. 
Meu corpo boia sozinho na água escura. As estrelas na apareceram, apesar do céu sem nuvens, e a lua não está cheia de brilho. Somos só eu, a água e meus pensamentos. 
Me movimento sem sentido na água que refresca meu corpo em pleno verão.  O barulho acalma meu ritmo acelerado de sempre e traz uma frágil sensação de tranquilidade. 

Onda

  Acho que eram duas e vinte cinco, ou então duas e vinte sete quando a primeira onda me atingiu. Foi forte, quase me derrubou, me tirou do prumo. Veio assim, sem avisar, me assustou. Sabe aquele susto que te faz perder o fôlego, fechar os olhos e colocar a mão no peito?  Foi desses.  Depois do susto, fui conferir se tava tudo em ordem, se a onda tinha feito mais estragos ou só tinha me causado uma taquicardia.  Destroços espalhados pela areia chamaram a atenção do meu olhar. Tive trabalho pra limpar, mas com o tempo tudo voltou ao normal. 

E eu segui lá, no meu mar, boiando. 

Onda

A sensação de não conseguir respirar me atingiu antes que eu tomasse consciência do que de fato estava acontecendo.  Pulmão queimava, pernas se mexiam sem controle algum e um grito desesperado estava preso em meu peito inundado.  

Desespero. 

  Acordei e continuei de olhos fechados. Tentava protelar o momento inevitável. A segunda onda tinha vindo com mais força do que eu jamais esperei. Acertou em cheio meu corpo frágil. Não há força humana que consiga vencer a força da natureza, eu diria depois dessa experiência. Para arrumar os destroços eu demorei horas,dias. E depois de tudo arrumado, algo ainda me queimaria por dentro. Uma pequena faísca do que tinha me deixado inconsciente por tanto tempo, jazia, ainda acessa, dentro de mim. 

  Segui a vida, dei um jeito de guardar aquela pequena chama em um cantinho que não me incomodasse. Situações como essas sempre deixavam marcas, diziam os especialistas. 

Eu só precisava aprender a lidar com elas. 

Onda

Leve. Palavra melhor pra descrever a última onda não há. Sutil, ela chegou devagar, daquelas que você sabe que vai molhar seu pé, mas você continua ali. Só pela sensação de frescor que ela traz. E assim, sem que eu percebesse, o frescor começou a se espalhar por meu corpo... de forma lenta e gradual ele fez seu progresso. 
Mais uma vez, abracei a sensação que a natureza me deixava e segui minha vida. Mas dessa vez, um tanto mais leve do que comecei. 



São quatro e quarenta e dois. Acho que o momento durou mais de sessenta segundos, after all. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário