27 de dez. de 2012

Última coca-cola


  "Road to closure, poor bastard"
  Tava pensando em te escrever um texto pra falar tudo o que eu sempre quis dizer (e assim, talvez, encontrar finalmente o fim dessa história louca em que me enfiei) e essa frase, de um dos meus filmes preferidos, veio à mente. Será mesmo que te escrever (mais)  um texto seria uma atitude sem fundamento?  
  Eu não sei.  Mas sei bem a vontade que tenho de te jogar na cara todos os momentos em que aquela química, (aquela que todo mundo procura ter com a cara metade) passou pela gente e fez nossos olhares se sustentarem por mais tempo do que o aceitável.  
  Sei também da vontade que tenho de te jogar na  cara as tantas vezes em que falamos a mesma coisa simultaneamente e nosso sorriso cúmplice não deixava dúvida de que pensávamos a mesma coisa sobre essa situação. 
  E depois de te jogar esse tanto de coisa na cara, eu iria, é claro, botar a culpa em você por nosso pseudo-relacionamento não ter dado certo. Porque você não conseguiu ver os sinais que todo mundo enxergava claramente.  Era tão óbvio que até a galera da fila do pão via.  E o twitter e o facebook e o mundo via. Mas você não. E se viu, não disse uma palavra. 
  E ai, enquanto eu tivesse declamando minha epifania na busca da redenção comigo mesma (por que não posso te enganar, tudo o que te jogo na cara é pra me fazer bem; só a mim mesma), você sussurraria umas desculpas esfarrapadas e tímidas e eu, pela primeira vez desde aquele dia em que te vi na porta da sala, não aceitaria. 
  Depois dessas desculpas negadas a gente ficaria em silêncio, só ouvindo os sons do café à nossa volta. Ou não ouvindo nada além dos nossos pensamentos. Consigo imaginar sua expressão, meio em dúvida, meio com raiva,a sobrancelha direita arqueada como quem dissesse "Não sei o que dizer mas não vou dar o braço a torcer".  
Não haveria pedidos pra que a nossa amizade continuasse a mesma nem que a gente desse um tempo nos nossos encontros cotidianos.  Tanto eu quanto você já sabíamos onde isso ia dar. Aliás, já estávamos vivendo aquilo que seria o resultado da nossa conversa/discussão/monólogo: uma amizade no limbo entre um relacionamento fracassado que não existiu e a necessidade real da companhia que um fazia pro outro.  
  Eu daria meu golpe final logo depois da garçonete trazer a nossa conta. Terminaria minha coca-cola e diria que, ao final de tudo, você nem foi o meu maior erro. Só pra te deixar mais triste eu diria que você não significou o suficiente pra alcançar tal posto.  Diria tudo isso em uma voz calma que assustaria até a mim mesma. Porém, de forma alguma, eu olharia nos seus olhos. Por que, mais uma vez, caso eu o fizesse,  nós dois trocaríamos os tais olhares cúmplices e você veria bem a verdade nas minhas íris transparentes ao seu olhar. 
  Mas, apesar de tudo, eu sairia do café mais leve e finalmente conseguiria sentir o que é, de verdade, ser livre. 

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